segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Dificuldades e desafios nas calçadas de Porto Alegre

Caminho e tropeço pelas ruas de Porto Alegre e percebo como as calçadas da cidade são mal conservadas, destruídas e corroídas pelo tempo, pelo abandono e, principalmente, pelo desleixo generalizado e pela falta de preocupação da população e das autoridades com o próximo. Como portadora de uma deficiência visual parcial, passo por obstáculos absurdos e desumanos, que não deveriam existir em uma cidade como Porto Alegre, que se diz – principalmente em ano de eleições - tão desenvolvida e preparada para o futuro. Será?!

São raízes de árvores que levantam as calçadas. São buracos deixados pela prefeitura por toda parte. São os próprios moradores que não conservam as calçadas em frente às suas casas e edifícios. São lajotas faltando. São as obras mal sinalizadas, que podem gerar acidentes sérios. São canteiros mal construídos. São passeios sem calçamento algum. Por toda parte, onde observarmos com um pouquinho de atenção que seja, encontramos boeiros com as tampas levantadas ou abertas. Além dos deficientes visuais, os cadeirantes são aqueles que mais sofrem com esse relaxamento que prepondera em todos os bairros e por toda parte.

As pessoas não imaginam que o simples fato de colocarem uma sacola de lixo ou entulhos de uma obra no meio da calçada possa dificultar imensamente a locomoção de uma pessoa com dificuldade visual ou de um cadeirante. As ruas não estão preparadas para os cadeirantes, para os deficientes visuais ou para portadores de deficiência de forma geral. Uma sacola de lixo ou uma pedra podem representar um grande risco, uma ameaça séria ou uma dificuldade muitas vezes intransponível. Da mesma forma, uma caçamba de lixo no meio da calçada, caixas no meio do caminho, um carro estacionado na calçada, uma árvore ou um poste caído, uma obra mal sinalizada etc.

No centro da cidade ainda encontro rampas de acesso para cadeirantes nas esquinas. Em todos os outros bairros, contudo, isso não ocorre. Mas, ora essa, cadeirantes andam somente pelo centro de Porto Alegre? Essa eu não sabia, não dá pra conceber um absurdo desses.

Possibilitar o acesso de pessoas com deficiência pela cidade não é um favor ou uma boa ação que as autoridades e algumas entidades estão fazendo. Não precisamos acreditar que as empresas e os governos que se preocupam com os deficientes são entidades louváveis e admiráveis. Eles não fazem mais que a obrigação.

As empresas, as cidades e os locais públicos não surgiram preparados para dar acesso a portadores de deficiência.

O homem esqueceu que as pessoas não são todas iguais; projetou que em um país com 189 milhões de habitantes todos seriam capazes de subir e descer escadas tranquilamente, correr, passar por buracos, desviar de obstáculos, escutar perfeitamente, enxergar, caminhar, se movimentar; esqueceu de si mesmo; esqueceu que as pessoas têm suas particularidades, suas deficiências e limitações.

Adaptar o espaço público e privado para viabilizar o acesso de todos é uma obrigação da sociedade, do governo, da iniciativa privada e de cada cidadão individualmente. Ninguém está excluído dessa obrigação. Todos poderiam ter nascido com uma deficiência. Qualquer pessoa pode ter um filho com deficiência, ou ainda, adquirir uma deficiência ao longo da vida. Portanto, construir uma sociedade que permita a inclusão de todos a qualquer lugar não é um ato de nobreza ou digno de louvores e aplausos. É apenas uma preocupação, que já deveria estar disseminada há muito tempo na consciência de todos.

Lembre-se disso quando fores obstruir uma rampa de acesso a cadeira de rodas simplesmente porque era o local mais fácil de estacionar. Pense nisso quando atravessar correndo uma rua movimentada por entre muitos carros. Olhe ao seu redor se não existem pessoas precisando de auxílio Na parada do ônibus ajude quem precisar de ajuda, seja para subir no ônibus, seja para ler a placa do ônibus.

Ensine seus filhos, desde cedo, a conviver, a respeitar e, principalmente, a admirar as diferenças. Mostre às crianças que nem todos são iguais e o quão maravilhoso é o fato de todos serem diferentes uns dos outros. Absolutamente todos têm suas particularidades, o que reforça que a minha certeza de que “deficientes” e “diferentes” é algo muito relativo. Diferente para quem? Diferente de que? Se cada indivíduo é único, como pode existir um padrão?

A verdade é que todos possuem alguma limitação ou deficiência, de diferentes ordens. Algumas pessoas possuem uma limitação física, mas que, com pequenas atitudes daqueles que a cercam, são facilmente superadas.

A pior limitação é a psicológica, é o preconceito, é a ignorância. Fingir que não existem deficientes circulando por Porto Alegre ou por qualquer outra cidade do Planeta e que as ruas não precisam estar preparadas para lhes proporcionar segurança e tranqüilidade é a maior das limitações que um ser (humano?) pode ter. Este é o pior atraso em termos de mentalidade e perspectivas para o futuro e que uma sociedade pode enfrentar. É uma mentalidade atrasada, que envergonha qualquer grupo social dotado de valores mínimos de respeito e igualdade.

Agora proponho que, na próxima vez você que sair de casa a pé, seja para qual destino estiver indo – longo ou curto, de dia ou de noite, acompanhado ou sozinho -, observe as calçadas, observe detalhadamente o caminho que faz, os obstáculos que existem, os locais que você precisa desviar. Preste atenção também na sua postura, no grau de atenção que você desprende com as coisas ao seu redor, com o movimento da rua e a tudo que lhe rodeia. Coloque-se, então, no lugar de uma pessoa com alguma deficiência, para a qual tudo fica mais difícil. Não tenha jamais pena dessas pessoas, elas não precisam – e tampouco querem – que alguém tenha pena delas. Tenha apenas respeito e disponibilidade em ajudá-las no que estiver ao seu alcance. Tenha pena, sim, das pessoas preconceituosas, com a mentalidade pequena. Os indivíduos com deficiência são fortes, aguerridos, batalhadores. Pense em como você poderia, com simples ações, facilitar a vida deles e já estarás contribuindo, e muito, com eles

2 comentários:

Gabi disse...

É isso ai, Marizinha pra Vereadora!!!

Unknown disse...

Mari, muito legal teu artigo, alias, muito legal todo o blog!

Gosyei muito de ler esse artigo, é muito bom ler o que a gente pensa nas letras de outra pessoa.